quinta-feira, 18 de novembro de 2010

MANIFESTO DE SEATTLE






“O presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é possível comprar ou vender o céu ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los?
Cada parte dessa terra é sagrada ao meu povo. Cada arbusto brilhante do pinheiro, cada porção de praia, cada bruma na floresta escura, cada inseto que zune, todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo.
Conhecemos a seiva que circula nas árvores como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo da montanha, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei e o homem pertencem todos à mesma família.
A água brilhante que se move nos rios e riachos não é apenas água, mas o sangue dos nossos ancestrais. Se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão lembrar-se de que é sagrada. Cada reflexo espectral nas claras águas dos lagos fala de eventos e memórias na vida do meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos. Eles saciam a nossa sede, conduzem nossas canoas e alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se dedicaria a um irmão.
Se lhes vendermos a nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós. O ar partilha seu espírito com toda a vida que ampara. O vento, que deu ao nosso avô seu primeiro alento, também recebe seu último suspiro.
Ensinarão vocês às vossas crianças que a terra é nossa mãe?
O que acontece à terra acontece a todos os filhos da terra...
Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos.
O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que ele faça à rede o fará a si mesmo.
Uma coisa sabemos: nosso deus é também o seu deus.
A terra é preciosa para ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador... ”

Seattle, antecedeu-se, em mais de um século, a toda a filosofia e aos pressupostos do moderno pensamento ecológico.
Não se resumindo às reflexões, o chefe Seattle concluiu sua carta ao presidente Fillmore com uma profética e severa advertência:

“O destino de vocês é um mistério para nós...
O que acontecerá quando os cantos da floresta forem ocupados e a vista dos
montes for bloqueada?
Onde estarão as matas? Sumiram!
Onde estará a águia? Desapareceu!
Será o fim da vida e o início da sobrevivência...
Estas praias e florestas ainda estarão aí?
Cuidem delas como as temos cuidado!
Amem-nas como nós temos amado.
Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra.
E nenhum homem, branco ou vermelho, poderá viver apartado dela...”.

As terras de Seattle foram incorporadas ao patrimônio dos Estados Unidos em 1853 e hoje compõem a região metropolitana da cidade que leva seu nome.

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